30.5.16

o resto, está dentro de nós.

Nem sempre nas viagens tudo é maravilhoso. Mais, depois de viver vários meses numa carrinha, sem poiso, há momentos em que tudo parece perder o sentido, em que um vazio inunda o nosso peito, e todas aquelas questões como “que faço aqui?”, “que sentido tem tudo isto?”, “a onde pertenço?” voltam a repetir-se na nossa mente, mais e mais.
E nem todos os sitios são bonitos.
Há sítios que chegamos lá, nem sabemos bem porquê, mas não nos acolhem, não há nada de autêntico ali, é só mais um daqueles sitios que podia ser em qualquer lado, ou em lado nenhum, porque não nos acrescenta nada, não nos dá nada. E depois penso que realmente nas viagens andamos sempre à procura desse preencher algo, é como uma busca incessante por encontrar algo fora, que devia estar dentro. E tudo isso às vezes torna-se tão devastador.

Aquela praia era assim, não sei porquê, mas era.
E, para piorar, de repente veio a chuva. E uma chuva forte, um céu escuro, que me dizia que sim, que o Verão não pode durar sempre, que Outono já estava aí, com a sua dose de introspecção e melancolia. Que aquela vida de estrada, de rua e de sol já não podia durar muito mais. Ali começava a contagem decrescente. E veio aquele aperto. A chuva e tanta tensão acumulada começava a sair ali.
Ao final do dia, já sem esperança de muito mais naquele sitio disse, “Já passou o temporal, já podemos conduzir, vamos embora daqui. Não importa que vai ficar rapidamente de noite. Este sitio faz-me mal.”
E assim, pegámos na carrinha, com o destino nas montanhas, em direcção norte. Na verdade seria qualquer sítio, só para me distrair com algo novo e arrancar-me dali.
E enquanto passávamos pela última vez junto ao mar, este tinha ganhado uma cor única. E o céu. Parámos.
E tudo aquilo se transformou numa incrível magia. Tudo tão forte, tão grandioso. Quase emocionava de tanta beleza.
E assim, de um momento para o outro, aquele sitio que antes só me abria cada vez mais aquele vazio interior, transformou-se num dos maiores espectáculos de cor e formas que alguma vez vi. E o que antes se tinha esvaziado, apenas nuns instantes, transbordou.








fotos de meiomaio


Penso nisso, e gosto de recordá-lo como uma metáfora de que a beleza não existe como uma característica das coisas em si. A beleza são instantes, momentos. Aquela luz, aquele cheiro, aquele som, aquelas cores, aquela companhia. Que combinadas entre si por vezes criam sintonias de uma harmonia inexplicável.
O resto, está dentro de nós.

Marina Roseto Capo Spulico, Itália

16 comentários:

  1. Concordo tanto, mas tanto com este post. A beleza (assim como a felicidade), são instantes. Certos momentos... uma luz mágica, determinado som, aquela companhia... e como referiste, o resto está dentro de nós. Por vezes a beleza está lá, nós é que nem sempre a conseguimos ver.

    Adorei as fotografias, serenas e muito bonitas.

    Um beijinho grande, Ana :)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Um grande beijinho querida Cláudia, e obrigada por estares sempre desse lado. ♥

      Eliminar
  2. A beleza pode não estar nas coisas mas nos olhos de quem as vê, e eu acrescentaria nas mãos de quem tão bem capta algo tão maravilhoso como o que connosco acabas de partilhar.
    Parabéns.
    Beijinho

    ResponderEliminar
  3. O resto está mesmo dentro de nós. Belas palavras, belos instantes. Beijinho

    ResponderEliminar
  4. Lindo o texto, maravilhosas, profundas, luminosas, as fotos...
    Num abraço de felicidades.
    Paula

    ResponderEliminar
  5. E mesmo não sabendo, hoje precisava tanto destas palavras! Obrigada, Ana. O resto, está dentro de nós. Sim! Sim :)

    um beijinho,
    Sara

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Ohh! ♥
      De nada querida Sara, de nada, obrigada a ti! :) *

      Eliminar
  6. está mesmo dentro de nós. e que feliz eu sou por conseguir desligar e apreciar momentos lindos mas tão simples. acho que nem todos têm esta sensibilidade que mostras tão bem aqui nas tuas fotografias.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Que bom que consegues apreciar essas pequenas coisas :)
      Um beijinho*

      Eliminar
  7. Que texto lindo, senti-o em cada linha.
    E o resto está mesmo dentro de nós. Por vezes a beleza está lá e não a vemos, são mesmo momentos, e que devemos sempre celebrar quando os encontramos.
    Um beijinho.

    ResponderEliminar
  8. Lindo este texto e tão intenso. A forma como falaste fez-me sentir toda essa dualidade de sentimentos/sensações. Há muita coragem quando em viagem se admite que houve lugares que não gostamos, que não nos acrescentaram nada. Sim, quando se viaja nem tudo é maravilhoso.

    beijinho Ana!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Sim, e quando o viajar se torna uma forma de vida ainda mais. Ai percebemos que a felicidade são sempre momentos. E isso é tão normal como os momentos de tristeza, introspecção... mesmo no meio do que poderia ser uma vida de sonho. E que às vezes se torna tão dura. Mas por isso também é uma experiencia que vale tanto a pena.
      Muito obrigada pelas palavras minha querida :)
      Um beijinho*

      Eliminar