30.1.17

do cinzento necessário







fotos de meiomaio
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Lembro-me naquela praia, das tempestades de Verão cheias de força, dessas que nos fazem sentir pequenos, com chuva que encharca até aos ossos, o cheiro das gotas grossas que caiam nas ruas de terra quente e transformavam tudo em lama. Ah, e pela noite, o espectáculo de energia em forma de raios furiosos que se espalhavam pelo céu negro, por cima do mar. (E que alivio o libertar de toda aquela tensão)
E o dar-me conta que nesta viagem um lado de mim anseia por estes dias de céu escuro e tempestade. Dou por mim a sentir um estranho alivio e encantamento quando vejo que as nuvens se aproximam (e eu que sou tanto do sol). Será pela necessidade natural de ciclo descendente nesta altura do ano? E por o ter contrariado? Será por, depois de tanto receber, absorver, viver, ver, cheirar, pisar, provar; tenho mais presente em mim essa necessidade de parar, olhar para dentro, reflectir, para poder digerir tudo?
E sim, cada vez é mais evidente essa necessidade de introspecção quando se viaja assim, sem tempo, ao ritmo natural das coisas. E ai tudo tem sentido, até os dias de chuva se tornam necessários e inspiradores.

E de todo o contemplar aquele céu cinzento, toda aquela água por todos os lados, tudo ia fazendo cada vez mais sentido, e as ideias iam tomando forma. As ideias que precisam do tempo que só os dias de chuva dão para poder madurar.
Depois tudo sairá à luz num dia de sol radioso.



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Punta del Diablo, Uruguay

6 comentários:

  1. que bonito ana! essas chuvadas quentes que "nos atrapan" em nós, e esses céus cheios de força que são, de alguma maneira, um reflexo, um grito nosso (ou de tudo o que levamos dentro e carregamos connosco). muito muito muito amor

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  2. Magnífico como tudo faz sentido, como todas as estações são necessárias e se complementam. Adorei, como sempre, foto e texto. Beijinho

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    1. Sim, os ciclos são tão necessários :)
      Muito obrigada querida Joana e um beijinho grande aqui de longe. *

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  3. as fotos estão lindas. o dia hoje aqui parece um retrato saído dessas fotografias. o céu tá caindo, o cinza tá escuro.

    gostei do final das tuas linhas. s ideias que precisam do tempo que só os dias de chuva dão para poder madurar.
    Depois tudo sairá à luz num dia de sol radioso.


    tô precisando ler. vou ler de novo e ver se eu consigo amar essa chuva e ter as ideias que me escapam.


    beijo meu,
    Mafê

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    1. Quando temos amor dentro tudo se pode amar, até os dias de chuva. Mas sim, nem sempre é fácil olhar tão para dentro. Boas leituras minha querida e obrigada pelas palavras (e pela visita) :)
      Beijinho! *

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