24.10.16

dos contrastes de Sarajevo

Numa viagem por dez países era a única capital que queria ir. Apesar de tudo não era tão grande. Apesar de tudo não era a típica capital das viagens express de um fim de semana. Apesar de tudo quase nem parecia uma capital. Apesar de tudo não havia nenhuma ideia muito concreta acerca dela, não tinha sobre ela nenhuma daquelas ideias pré-feitas (quase sempre um pouco falsas) que criamos acerca das cidades que todos conhecemos o nome. E foram vários os que disseram: “Tens que ir, vale a pena”.
Aquela cidade, como todo aquele país, era uma grande desconhecida, por isso havia que entrar nela. Olhá-la de perto, cheirá-la, escutá-la, saboreá-la, senti-la.










fotos de meiomaio


Para os olhos, muitas cores. Uma variedade imensa de edifícios. As pequenas casas coloridas que povoavam as montanhas que circundavam o centro da cidade. Na periferia todos aqueles enormes blocos de cimento, austeros, duros, que o tempo (e a guerra) lhes deu um ar ainda mais hostil (e que pareciam parados há duas ou três décadas atrás). O novo centro de negócios com as suas modernas torres que agressivamente ostentavam e defendiam um estilo de vida materialista e ocidental (frio também, e tão forçado). E um centro antigo cheio de pequenas ruelas cheias de vida, que nos fazia recordar uma medina árabe com detalhes de uma aldeia europeia.
Os sabores, entre os reconfortantes estufados bósnios comidos com pão e as refrescantes bagas de todos os tipos que se vendiam no mercado, foram dos melhores de toda a viagem. O cheio que mais recordo; o do café, intenso, sempre servido naqueles copinhos de latão.
O confronto entre os sons da zona mais recente, onde o trânsito apagava todos os outros, e os da zona antiga: As conversas das pessoas nas lojas, o bater de asas das pombas que voavam em bando, os risos, os passos. O chamamento do alto das mesquitas.

Dentro do peito um peso que o (pouco) tempo ainda não conseguiu apagar.
Apesar da alegria naquelas ruas, das cores, da descontração de tudo o que ali se passava, apesar de tudo o tentar aligeirar, as marcas ainda eram demasiado visíveis. Era como uma urgência vital de leveza, de luz, depois de tanta escuridão. As marcas das balas, das bombas, os enormes cemitérios, ainda estavam ali, tão evidentes, a cada esquina. E na memória. E tinham que estar.
Todos os contrastes, tão fortes, faziam daquela cidade um sítio impossível de esquecer. Todos aqueles contrastes faziam daquele país algo tão maravilhoso como difícil de digerir.

Sarajevo, Bósnia e Herzegovina

2 comentários:

  1. Querida Ana,

    Não sei o que a vida me trará. O que significa, entre muitas outras coisas, que não sei se chegarei a ir a estas geografias e tudo o mais. Mas chegar a este teu lugar feito de lugares é uma viagem por si só. Um caminho que vale mesmo a pena fazer. Agradeço sempre interiormente. E às vezes, escrevo, quando me deixo de ser tímida:)

    Um beijo grande!

    Mar

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    1. Ohh, querida Mar... ♥♥♥
      Este foi sem dúvida um dos comentários mais bonitos que recebi aqui. E logo vindo te ti, que tens o dom das palavras.
      Muito, muito obrigada! :)

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