Duas pick-up, dois carros, vários camiões. Quase todos os quilómetros no lento baloiçar dos camiões. A ver como toda a paisagem passava com calma, pouco a pouco, lá de cima. Há que saber esperar, e viver esse caminho. O destino: Bariloche, Patagónia (e o teu olhar).
Ainda na despedida de Capilla del Monte foi viajar com os cabelos ao vento e a pele ao sol quente. O ar seco. Outros viajantes que se juntavam a nós na parte de trás das pick-ups e um que me falava de aura e de energia “Tienes una bonita aura naranja.”, “camina descalza sobre el césped y agarralo bien” enquanto me fazia uma massagem nos pés empoeirados pela mesma terra que por aqueles lados cobre todas as estradas.
Depois, o primeiro camião. Muitas horas, muitos quilómetros. E ver o anoitecer sobre aquelas planícies infinitas.
Lembro-me de, já em plena noite, enquanto dormitava na parte de trás dos assentos, abrir os olhos e ver no meio da escuridão, iluminada pelos faróis, uma placa: “Província de La Pampa. Patagónia, Argentina”. E dali de trás, de onde ninguém me via, sorri em silêncio, por dentro e por fora. E uma emoção e adrenalina percorreram todo o meu corpo.
Patagónia. Porque é que aquela palavra tinha aquele poder sobre mim? Pelo mito que se foi tornando na minha mente. Era o destino. A terra distante, lá no fundo, lá na ponta. Do outro lado do (meu) mundo. Sim, não era a palavra, era o que eu criei em volta dela que me aquecia o peito daquela maneira. Nós criamos as emoções, fabricamo-las e vivemo-las. Mas por isso não deixa de ser real. Haverá algo mais real que os sonhos e as ilusões? E voltei a fechar os olhos.
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Já por volta das duas da manhã o camião deixou-nos num cruzamento entre duas rectas infinitas. Na manhã seguinte a direcção deixava de ser Sul e passava a ser Oeste. Foi montar a tenda e dormir o possível até voltar a acordar com o som dos camiões e voltar à estrada com o Pablo, um rapaz que conheci em Capilla e que vinha na mesma direcção que eu.
La Pampa era um imenso deserto de planícies sem fim, de um calor cada vez mais seco e terras cada vez mais despovoadas. E estar no meio daquelas estradas sem fim à espera que passe alguém que nos leve. Mas os camionistas sempre nos salvavam. Tanta imensidão sem nada a toda à volta. Tudo tão desolador, vazio, inóspito e inspirador ao mesmo tempo. Que diferentes as dimensões de tudo ali. E tudo era igual, e aquelas rectas, eternas. E assim se passaram horas e horas. Toda uma manhã, toda uma tarde. E como que hipnotizada pela monotonia daquela caminho, pouco a pouco deixávamos La Pampa e entrávamos na Província de Río Negro.
Já com os últimos resquícios de luz de dia conseguimos o nosso último camião que nos levaria nos quatrocentos quilómetros que ainda faltavam para o destino. E naquele momento já nem conseguia pensar em nada. Nem saber bem onde estava. Apenas me deixava levar por aquele lento embalar pelas estradas escuras em direcção aos Andes.
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fotos de meiomaio |
entre Capilla del Monte e Bariloche, Argentina
Bom voltar a ver-te por aqui e sentir a força e beleza desses caminhos por ti percorridos. Um abraço
ResponderEliminarPaula
Patagónia ... também faz parte do meu imaginário. Um dia também gostava de lá ir ...
ResponderEliminarQue grande aventura Ana! E depois o que se segue?
Continuação de boas viagens!
Um abraço
Vai. É daqueles sitios que se tem de ver, de sentir, pelo menos uma vez na vida. (mas isso tudo vem nas próximas histórias :) )
EliminarObrigada por seguires desse lado e um beijinho! *