Às vezes é preciso sair para ver realmente o que somos. Ou poder ver o melhor de nós (o tal “ver de fora”). Depois de viver noutro país, que apesar de tudo não é assim tão diferente, durante quase cinco anos; depois de viajar por vários países do Sul da Europa, entendem-se as parecenças, mas ainda mais as diferenças que nos tornam únicos. Talvez nas subtilezas esteja a verdadeira identidade dos sítios. Aquelas que não se vêm quando se passa, aquelas que se sentem quando se vive.
E num voltar a olhar o nosso país com o fascínio de quem (re)descobre algo, sinto sem dúvida que uma das melhores coisas que temos é a nossa autenticidade. Mesmo em plena cidade, a aldeia, o nosso lado mais simples e humilde está sempre ali. Sim, as cores estridentes, o popularucho, o cheiro a sardinhas, as bandeiras, os tascos, o futebol (na televisão e o que os putos jogam nas praças), os bailaricos, o falar alto, a brutalidade (tão mais pura que tanta falsa simpatia), a broa, o caldo-verde (sempre numa malga de barro), a roupa estendida cá fora, os manjericos, a gente de bairro. Todas estas coisas que apesar de tanto gourmet, sunset, hostel, experience, ainda se mantêm (e por favor, que não se percam).
E nestes dias, nas ruas, tudo isto estava mais presente que nunca.
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Depois, é ao juntar todo este ambiente com a nosso lado de profundidade e melancolia (aquela luz ao final da tarde, os miradouros, o fado, a decadência, a poesia) que se cria aquela maravilhosa dualidade que é, sem dúvida, o melhor de nós.
Que se mantenha.
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fotos de meiomaio |
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Porto, Portugal
uns dias antes do São João