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18.11.20

o milho entre os vulcões

O condutor do autocarro deixou-nos no meio da panamericana. Ainda varridos pela velocidade dos carros que passavam e sem saber muito bem para onde ir, um simpático casal diz-nos “No se preocupen, todo aquí es muy seguro”.
O caminho era de umas casas cinzentas salpicadas numa paisagem de campo verde e rodeada de imponentes vulcões com nuvens agarradas ao topo que quase nunca os deixavam ver por completo. Contam as lendas que a mãe Cotacachi é o vulcão protector do feminino e o pai Imbambura o do masculino e que são eternos apaixonados um pelo outro.
A casa que nos acolheu naqueles dias estava mesmo no meio destes dois gigantes. Uma pequena casinha de barro à qual se chegava por um caminho de terra rodeado de eucaliptos e campos de milho. E foram dias de plena tranquilidade, provavelmente os dias de maior paz de toda a viagem e onde nos sentimos mais em casa.
A calma do campo, as animais, o sol, o frio e a chuva, a presença dos vulcões e a paz que nos transmitiam as senhoras que moravam ali.
À noite era observá-la na sua rotina de cada dia (e a calma e a presença com que fazia tudo). Como acendia o fogo e lentamente ia preparando a sua sopa de farinha de milho da sua colheita. E como pouco a pouco o cheiro a lenha e a paz que ela transmitia iam preenchendo todo aquele lugar. Era simplesmente observá-la em silêncio. Ou ajudá-la a debulhar o milho.
E era tanto.
E observar a fortaleza de como caminhavam descalças sobre o chão frio e molhado da chuva da manhã. E pareciam duras por dentro também. Mas com o passar dos dias íamos ganhando a sua confiança e pouco a pouco iam revelando o seu lado mais doce.
E a Marina. A filha solteira que falava sempre alegremente connosco e que durante a tarde bordava minuciosamente umas faixas de flores em tons rosados; sentada à porta de casa com um gatinho no colo que procurava o seu calor.











fotos de meiomaio



Laguna de Cuicocha e Ilumán, Ecuador

17.10.20

o vale encantado






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O ambiente ali era de encantamento.
Talvez pelas nuvens que dançam por entre os montes carregados de verde denso e que de forma sedutora nunca nos revelam aquela paisagem por completo. E pelo jogo de claro escuro e de relevos em constante movimento que criam uma aura de mistério e magia.
Depois a mistura inesperada de um bosque de clima temperado frio e das maiores palmeiras que alguma vez vi. E mais uma vez os contrastes tão presentes neste país.
Os Andes. E tantas caras que pode ter esta imponente cordilheira. Desde as escarpas inóspitas e duras que me aterram a estes montes e vales cobertos de um verde que aconchega e que me faz sentir num sonho.
Esta cordilheira é muito, muito mais do que aquilo que eu posso ver ou sentir (ou se quer imaginar). É de uma grandiosidade que nunca poderei alcançar.
Será que o condor que sobrevoa estes vales pode chegar a senti-la?

fotos de meiomaio



Valle del Cocora, Quindío, Colombia

11.6.20

um rosa salmão, ligeiramente alaranjado

foto de meiomaio


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"E enquanto caminho sobre a areia molhada um sem fim de bolinhas de um rosa salmão, ligeiramente alaranjado, rebentam debaixo dos meus pés.
A mesma cor que pouco a pouco vai pintando as nuvens e o céu que se encosta no horizonte. É uma cor doce, suave, amena, que não chega a ser quente mas que aconchega. Tal como a temperatura deste mar e desta brisa.
Talvez tudo aqui, no fundo, seja feito dessa cor."

Daquelas paragens fiquei sem as imagens. As da máquina.
Que as da alma se mantenham sempre com as cores bem presentes.

Ayampe, Ecuador

18.11.19

o fim da terra




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"O vazio e o cheio ao mesmo tempo. A imensidão. O tudo e o nada. Tanto que se vê que se perde de vista. Tanto azul.
O silêncio e o som das ondas e do vento. O que se vê e o tanto mais que não se vê. A calma. A profundidade. A superfície.
Ar, água e terra. A solidão. A introspecção. Tanto e tão pouco. Quando tudo se une.
(...)
Fecho os olhos, respiro fundo e quero levar comigo todo este azul."

Finisterra, Galiza

8.4.19

E mergulhávamos naquele azul profundo






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A magia aparece sempre na mudança, entre uma coisa e outra. No efémero, no que dura pouco.
No momento em que o verde se torna azul.

À medida que as águas escureciam, quando os pássaros deixavam de cantar, tudo se envolvia numa aura de mistério e introspecção. Sentíamo-nos pequenos, alerta, indefesos. Atentos a tudo. Lentamente íamo-nos voltando cada vez mais para dentro. Como tudo à nossa volta.


E mergulhávamos naquele azul profundo.


fotos de meiomaio


pelas margens do rio Lima e do Rio Vez, Minho, Portugal

26.12.18

primavera do inverno





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ar frio e sol quente
o granito e a água

a vida e a morte.


fotos de meiomaio


Porto, Portugal

12.4.18

ainda que só dure uns dias

Magnólias. Até o nome é exuberância.
Quando ainda nada teve coragem de brotar, elas explodem, orgulhosas e seguras de si, com uma força de mulher adulta que já não perde tempo com vergonhas e recatos.
Bem longe da inocência das primeiras flores de amendoeira, toda aquela maturidade surge ainda em dias gelados de inverno.
E, ignorando tudo o que as rodeia, celebram com todo o esplendor a sua Primavera.







fotos de meiomaio


Ainda que só dure uns dias.

Porto, Portugal (em dias de Inverno)

20.2.18

la tierra colorada

A viagem seguiu em direcção ao Norte.
E a vegetação era cada vez mais densa. O cheiro mais forte. O ar mais húmido. As cores mais intensas.


A terra tingiu-me os pés de vermelho.
E de repente a vida começou a brotar por todos os lados.















fotos de meiomaio


Tanta vida.
A verdadeira riqueza florescia ali em cada detalhe.


Eldorado, Misiones, Argentina

2.2.18

el paso de los Andes

Qualquer palavra se torna pequena diante daquela imponência. E assim passei, sozinha, em silêncio, as montanhas mais altas que alguma vez vi. Num autocarro. Uma aduana pelo meio. E um olhar maravilhado por tanta grandiosidade, tanta força.


As imagens falam por si.








fotos de meiomaio


paso de Uspallata, Chile e Argentina